domingo, 31 de agosto de 2008

Nós.

Não pense... Isso faz mal pra você.
Se precisar ter opiniões, pense como os outros. Assim te chamarão de sábio e serás louvado.
Siga o fluxo da massa para a mentira, aceite as coisas como elas são, sem retrucar.
Além de matarmos nossos feridos, torturamos nossos pensadores.
Não faça barulho. Isso pode ser interpretado como escândalo. E por favor, vista esse uniforme. Você não vai querer ser confundido com os outros...

blog desativado até tempo indeterminado.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Voar


Ô vontade de fugir, sair correndo.
Encontrar um lugar melhor, um lugar onde possa repousar,
lugar onde o bom-dia seja alegria do dia anterior sem remorso,
Da certeza de um dia seguinte tranquilo.
Que vontade de pegar um ônibus até não sei onde, e ao ver um céu diferente, parar e deitar na grama.
Que vontade de conhecer o que está por detrás desse muro da minha vontade, além dessa possibilidade.
Deve haver alguém, em algum canto que se importe.
E mesmo que não, somente de saber que tudo está assim, tão diferente, não haverá mais do que se queixar.
Que vontade de voar...

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Comprei um trambolho.

Eu comprei um trambolho, e juro que não sei para quê ele serve. Disseram para mim que resolveria meus problemas, que seria uma completa solução para tudo que eu ainda nem sei que preciso. Me deram algumas instruções, que terminavam em "pagar o preço", e segui tudo com extremo cuidado, passo por passo.
No final do dia, eu já era mais um orgulhoso possuidor de trambolhos, como muitos por aí.
Carreguei para cima e para baixo aquilo sobre minhas costas. Cheio de pontas e arestas, o negócio doía pra burro, principalmente nas ladeiras e degrais de meu caminho. Demorou para reparar, mas o trambolho estava me abrindo um talho enorme nas costelas.
E essa foi minha primeira parada.
Descansei o objeto desforme e pesadíssimo no chão, enquanto tratava de cuidar de minha ferida antes de continuar a caminhada. Foi só aí que me dei conta de que não conseguiria erguer novamente aquela coisa em direção ao meu lombo. Precisei da ajuda de dois ou três outros carregadores de trambolhos, e assumi o controle da peça novamente.
Retomei o passo, satisfeito, imaginando com esperança que tudo aquilo terminaria como prometido.
Mais adiante, no caminho, tropiquei com o peso e me desequilibrei. O trambolho tombou das minhas costas e esmagou minha perna. Urrando de dor, não fui atendido. As pessoas estavam muito ocupadas carregando seus trambolhos para cima e para baixo. Parar para ajudar significaria perder a força para erguer a coisa toda denovo. Eles não teriam tempo nem disposição para tal, não senhor.
Desde então estou sentando na guia, de perna esmagada, com uma coisa pesada e inútil do lado.
Isso aqui é uma verdadeira feirinha de trambolhos. Vejo alguns homens engravatados, de pernas quebradas, vendendo esses montros esmagadores como se fossem maravilhas da tecnologia (ou seria teologia?), prometendo mundos e fundos. Ida ao paraíso, satisfação garantida e todos os desejos realizados. As pessoas fazem fila para ter em suas mãos mais um exemplar. Alguns sujeitos mais encorpados arriscam-se em carregar dois ou três ao mesmo tempo, mas não por muito tempo. Essas coisas podem escorregar e acertar a cabeça de algum desses infelizes, se você pensar bem. E realmente muitos acabam um pouco esmagados, como eu.
Eu me pergunto se alguém, um dia, não poderia pegar todos os trambolhos do mundo e carregar para a destruição. Teria que ser alguém forte, realmente forte, que juntaria todos esses monstros desengonçados em suas costas e o queimaria longe da cidade, em algum monte ou coisa parecida. Algo me diz que isso doeria um pouco...
Será que esse alguém teria nossa gratidão?
Será que pessoas o seguiriam?
Será que receberiam de graça o ato feito, ou cobrariam o benefício em troca de outro trambolho?

Será?